Histórico/Observação
Peça adquirida em 16/11/1983, pertencente a João Ferráz de Lima, antigo ourives da Cidade de Goiás. Foi doada pelo mesmo, juntamente com a cadeira e os apetrechos de ourivesaria – candeeiro de azeite, maçarico (para soldar ouro e prata), burilador ou buril (para raspar e burilar o ouro e prata), pegador de ouro (para pegar os filamentos de ouro) e forma de fundir ouro (com 17 cavidades).
João Ferráz de Lima, conhecido por João Malheiros, nasceu na Cidade de Goiás em 26/01/1918 e faleceu em 21/05/1988. Aprendeu a profissão com seu pai de criação, Antônio (Tonico) Malheiros, tendo como local de trabalho, a Rua do Carmo e posteriormente, a Rua Atrás da Abadia. Iniciou a profissão de ourives ainda na juventude e a exerceu durante toda a sua vida.
Seus descendentes, Edijari Santos Lima e Wellington de Paula Lima, filho e neto, respectivamente, também se dedicaram ao ofício de ourives, dando continuidade a tradição da família. Foram muito apreciados os anéis de prata, das décadas de 1960 e 1970, trabalhados com esmero, com detalhe de chave e coração, tradição na Semana Santa da Cidade de Goiás, os quais eram adquiridos pelos locais e visitantes durante a Sexta-Feira da Paixão.
Também conhecida como “banca do ourives”, essa peça de mobiliário integrou as oficinas de ourivesaria desde há séculos, adentrando o século XX. Nela se executavam grande parte das operações necessárias para a manufatura de joias e sem joias em ouro e prata.
Sua estrutura é caracterizada pela simplicidade formal, sendo utilizadas para execução, madeiras nativas, com recursos do próprio meio ambiente local, apresentando, com isso, um manifesto caráter regional, enquanto mantém linhas gerais estáveis, sóbrias e arcaizantes, comuns a todas as oficinas e regiões.
A sua razão de ser encontrou justificação na adequação ao trabalho que sobre elas era executado, e ao local a que se destinavam, mas também às características do seu utilizador, que estabelecia com o móvel uma relação de estreita proximidade, sendo as bancas muitas vezes personalizadas tanto em pormenores técnicos como na adequação ao físico do seu usuário. (MOTA, 2016)
A ourivesaria é uma arte milenar, exercida no Brasil desde o início da colonização e com maior intensidade após o advento da descoberta das minas de ouro e prata, nos séculos XVII e XVIII. Segundo Brancante (1999): “[...] em seu primeiro século de existência, o Brasil já possuía ourives e riquezas em prata que, se não chegaram até nossos dias, perderam-se devido às pilhagens ocasionais e ao espírito comum da época de refundir pratas velhas para fazer novas peças.” (RESENDE, 2010).
A arte de se fundir metais em ouro, prata, cobre, de incrustar, encastoar, limar, e banhar a ouro, muito se utilizou desse tipo de mesa ou banca, adaptada para melhor desempenho da profissão.
Para saber mais:
MOTA, Rosa Maria dos Santos. Mobiliário de Ofícios: as bancas de ourives. Universidade Católica Portuguesa, 2016.
RESENDE, Sancha Livia. Um olhar sobre o fazer do ourives em Belo Horizonte – MG. SP: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010. Mestrado em Ciências Sociais.
BRANCANTE, Maria Helena. Os Ourives na História de São Paulo. São Paulo: Árvore da Vida. 1999.